Viver é todos os dias dar à luz a significados.
É buscar a inocência e a dignidade, mesmo sob a ameaça palpável da desolação de contornos apocalípticos. É desejar desesperadamente a solidariedade, mesmo quando penetrados pela incapacidade de lidar com as próprias circunstâncias.
É, de alguma forma, interpretar a sinuosidade dos nossos tempos, ainda que de olhos vendados, para revelar ao menos o que se suporta. É superar todos os castigos irônicos que seguem segundo seu próprio arbítrio, poderosos e ubíquos.
Nesses dias de incerteza absoluta, a ideia de parar, de diminuir o ritmo, de encarar a quietude e a reflexão pode ser assustadora, já que coloca em xeque a nossa sensação de onipotência. Por outro lado, essa obscuridade desconcertante pode se apresentar como algo desafiador e estimulante.
Exageradamente entregues à ambiguidade do “novo” sentimos muito medo e angústia, mas sentimos também uma espécie de excitação em busca de domesticar esse “novo”, de torná-lo útil e finalmente comprovar nossa magnificência.
E é no isolamento de cada um, que seguimos erráticos e vulneráveis, entre os sobressaltos da vida e a certeza da morte, à procura de significados e possibilidades infinitas que mantenham nossas emoções e anseios positivos a pulsar.
A verdade é que, em meio a esse caos de constragimentos e adaptações, não há regras: somos todos indefesos. Mas, ao nível mais importante, somos feitos para avançar, ultrapassar e desmoronar obstáculos. Porque a vida, tão fascinante e cruel, também somos nós.