A busca pelo reconhecimento da reciprocidade entre raças é tão antiga e persistente quanto dolorosa e, volta e meia, revela-se sem rodeios. No entanto, devo admitir que são raras as vezes em que essa busca assume um vigor respeitável, capaz de purgar a hipocrisia da simpatia.
Prova disso é o documentário “Afrikaner Blood”, das holandesas Elles van Gelder e Ilvy Njiokiktjien, que acaba de levar o primeiro prêmio do concurso World Press Photo 2012 na categoria multimídia.
São cenas revoltantes de adolescentes sul-africanos brancos durante um acampamento de verão organizado por um grupo de extrema-direita. O vídeo traz a figura de Franz Jooste, ex-major do Apartheid e líder do grupo, declarando firmemente que o camping de adestramento teria a finalidade de “criar uma nova geração de racistas”.
Pode não parecer e é assustador, mas o racismo sobrevive em segredo, na clandestinidade de um mundo arco-íris idealizado por muitos e praticado por poucos, na medida em que vivemos nessa esquizofrenia sistemática de deturpar a realidade que nos circunda, achando que tudo é rosa ou – ainda pior – colorido…
Sim, porque tanto quanto posso avaliar, mesmo com a revogação do Apartheid em 1994, não há indicação de que o mundo tenha mudado drasticamente suas ideias em relação à segregação racial e social.
O que eu sei é que a dose de crueldade de certos comportamentos me expulsa da indiferença terapêutica do dia-a-dia; e é por isso que hoje faço questão de expressar minha repugnância categórica às palavras de Franz Jooste:
“Não tenho vergonha de dizer que sou racista. Na África do Sul só é possível ser duas coisas: ou cego ou racista“.
Franz Jooste