O conto da Solitária

Ilustração: Jussara Germano



Nos preparativos de sua morte ela hesitou.

− Mas é mesmo necessário?

O curandeiro não respondeu. Com a cabeça baixa, quieto, olhava para o almofariz de tronco escavado, a moer com o pau liso a catinga-de-mulata. Erva robusta, de talo grosso.

A pobre rapariga tinha adiado sucessivamente a execução.

Afinal, depois de tantos anos e à falta de melhor, era sua única companheira. Sempre ali, vizinha às esquinas delgadas, nunca tinha incomodado.

Vieram-lhe lágrimas aos olhos.

Não deixou, porém, sequer uma gota do chá amargo que bebeu num gole só.

Talvez porque já se sentisse sozinha, talvez porque a ocasião assim exigisse, sentiu uma emoção particular, doída mesmo, quando partiu.

Deixou a aldeia macambúzia, com passos lentos e sem vontade. Que difícil imaginar voltar para casa assim, por si mesma.

Também eram anos, que lhe acompanhava a solitária…