Abutres

Ave de Rapina – Fotografia de Itaciara Poli
Permitam-me fazer uma pergunta impertinente, talvez um pouco vaga, mas nem por isso menos perturbadora:

Em que medida somos responsáveis pelo esgotamento do nosso planeta?

Numa sorte de abdicação visionária, revivida com a tragédia que acontece no Japão, ocorreu-me tentar calcular o quanto somos presunçosos em acreditar que temos o poder de destruir a Terra ou, se preferirmos, de salvá-la.

Já debatido por diversos estudiosos, de diferentes áreas de atuação, o argumento desenvolve-se nos melindres da cautela, graças ao seu alcance mitológico e científico.

Por isso avanço com a prudência de quem não é especialista do assunto…

Apenas compartilho com a idéia de que um dos problemas reside na prepotência de nos julgarmos responsáveis por tudo de errado que acontece com a esfera azul. Na qualidade de predadores do planeta, cremos-nos pseudo-abutres, assassinos e cruéis. 

Então escapa uma pergunta: somos tão poderosos assim?

Ou talvez sejamos somente seres que, no intuito de sentirmo-nos moralmente superiores, buscamos preservar a biodiversidade “frágil” para manter e regenerar a própria arrogância?

Nos nossos dias, as utopias da tecnologia alternativa despontam por toda parte entre as verdades que podemos escolher. Premissas ecologicamente corretas, de um modo geral, poderosamente políticas, que nos afastam da reflexão objetiva do que realmente acontece. 

Mas o inseparável senso de culpa nos impede de raciocinar, e assim continuamos a planar majestosos em correntes de ar cada vez mais quentes, a “salvar o planeta”, num sincero impulso de reparação.