Prazer, Garcia!

Garcia estava sempre às voltas com seu probleminha de memória…
Que dia de cão! Tinha esquecido as chaves do escritório, o aniversário da mulher e, pior, a ração do gato.
Entrou no carro e percebeu que estava na reserva.
− “Putz”! Vou ter que parar no posto.
Segunda-feira de chuva, atrasado e na reserva. Era só o que faltava.
− Coloca dez, amigo!
O frentista fez cara feia.
Fazia um calor danado, carro parado, nenhum ventinho. Os sovacos deitavam em pingos e começavam a manchar a camisa azul-celeste. Então Garcia decide descer.
Vê aquele homem de cabeleira farta, comprido como uma enguia, que dava tchauzinho, ok, tchauzinho de novo.
Aí o Garcia olha pra trás, pra ver se é com ele. Ninguém. Entra no carro. Quem sabe o fulano desiste.
O homem lingüiça continua vindo na sua direção com um sorriso animado. Apóia o braço na janela do fusca, cheio de intimidade:
− Olha quem tá aqui! Há quanto tempo, cara! Que bom te ver.
Sobrancelhas levantadas e sorrisinho sem graça, aquele meio de canto. Não lembrava quem era. «E agora?», pensou.
Apertou o câmbio com as mãos suadas e decidiu ir “na banguela” . Afinal mais umas duas perguntinhas e ele já saberia quem era o tal.
Ponto morto.
− E então, como é que tá?
− Na luta. Sabe como é!
Mas Garcia não sabia, o fusca parecia uma sauna, o frentista não voltava com o troco, o cheiro forte da gasolina lhe dava um “barato” estranho.
− Sei, sei…
Ponto morto outra vez.
− Saudades de você, cara. – disse o comprido.
− Eu também, eu também!
Que situação.
Droga, a camisa já estava ensopada.
Finalmente o troco.
Silêncio.
− A Aninha sempre pergunta por você.
Bingo!
Era o Juarez, irmão da Ana Paula, grande amor da vida do Garcia.
Soltou um palavrão daqueles, desceu do carro.
− Não é possível! Dá um abraço, cara! Quanto tempo.
− Ah, então você nem sabia que era eu?
− Também, você tá magro pra caramba!
− É verdade, dei uma emagrecida…
− Que coincidência te encontrar assim, depois de todo esse tempo.
− Eu também nem acreditei. Mas eu te reconheci de longe, todo faceiro dentro do “fusqueta”!
Tapinha na lataria.
− Sério? Bacana. Mas me conta, e a Aninha? Casou?
− Que nada! Aquela ali não te esquece…
Risadinha.
− Olha, é o seguinte: vou fazer um churrasco lá em casa no sábado. Faço questão que você e a Aninha venham.
− Com certeza! Vou gravar teu celular aqui na memória, te dou um toque e você grava o meu. Assim a gente não se perde mais.
Risadinha.
− Então, tá! Anota aí: é 554…
− Espera, espera. Deixa eu digitar o nome primeiro. Só um segundinho…  Me atrapalho sempre com esses botões. Pronto, agora sim: SIL-VEI-RA! Acelera aí o número!