Ontem estive a folhear fragmentos da Obra Aberta de Umberto Eco, sujeito demasiado erudito que como sempre consegue me deixar fora do eixo, completamente perdida na minha rota de oscilação.
Com a magnífica coleção de ensaios, o pensador italiano procura analisar minuciosamente como interpretamos o mundo a nossa volta. Acredita que através de um pormenorizado jogo semiótico entre a obra e sua interpretação, aquela pode adquirir significados bastante diferentes.
Não só na literatura, mas em qualquer tipo de arte e até mesmo na cultura de massa. Segundo Eco, o mainstream de certa cultura pode ser percebido sob diversos pontos de vista, mas não sem limites, pois se assim for, tal interpretação poderia assumir os contornos levianos da irracionalidade.
Isso fica bem claro em outro livro do autor: o espinhoso romance O pêndulo de Focault, no qual as interpretações excessivas criam uma realidade paralela, sem o limite do lógico.
Aí eu me pergunto: ao interpretarmos o mundo a nossa volta, criamos uma realidade hermética? De que forma traduzimos os sinais das idéias que nos circundam? Vemos só o que queremos ver? E, principalmente, como queremos ver?
Refletir sobre a identidade que damos ao mundo que nos rodeia é tarefa árdua, mas importante, porque nos leva a exceder a superfície. É reinventar-se a todo instante nas convicções e nos anseios. É descobrir novos significados.
Com um pouco de arte, mas também de astúcia, devemos oscilar com o pêndulo da vida em seus movimentos de alegria, paixão, dúvida, tragédia e, de novo, alegria.
Peço então que investiguemos! Lancemos mão de conjecturas, criemos hipóteses para só assim decifrarmos o que é essencial para cada um.