“Quem escreve ou pinta ou ensina ou dança ou faz cálculos em termos de matemática, faz milagre todos os dias. É uma grande aventura e exige muita coragem e devoção e muita humildade. Meu forte não é a humildade em viver. Mas ao escrever sou fatalmente humilde. Embora com limites.”
Clarice Lispector, in ‘Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres (Ulisses).
Concordo plenamente com as palavras do professor Ulisses. A aventura da escrita impõe a condição da humildade, mas não sob forma pura ou incontestável.
Humildade sim, mas com limites. Simplesmente porque a modesta suspeita de sua existência descortina vestígios de ligeira frivolidade, protegidos por barreiras facilmente transponíveis, sutis como véus de organza. Balizas imaginárias, sentinelas da vaidade.
Por isso escrevo a partir de minhas fraquezas, camufladas, tantas vezes desleais com o mais nobre dos propósitos.
Escrevo por ter medo de mim mesma.