Depois de muito tempo pude rever a adaptação cinematográfica de “A Streetcar Named Desire”, dirigida por Elia Kazan (1951). A peça original foi escrita pelo dramaturgo norte-americano Tennessee Williams e venceu o Prêmio Pultizer em 1947.
Segundo creio eu, essa é uma daquelas obras bem-sucedidas sobre as quais o tempo não atua.
Ouso dizer que é sempre uma novidade, já que nunca envelhece. E talvez isso aconteça porque Tennessee impregnou a narrativa de recorrentes conflitos que espelham com maestria o sustentáculo de alguns dos nossos principais requisitos de sobrevivência, tais como o desejo e o poder. Elaborados e, ao mesmo tempo, notoriamente primitivos, tais requisitos demandam uma energia brutal de cada um de nós.
A realidade nos escapa!
No afã de sobreviver a essa sociedade onde o desejo pela ilusão é cada vez maior, muitas vezes vemo-nos agir como a personagem principal da trama: Blanche DuBois, uma bela e misteriosa mulher com pretensões de virtude e cultura que, através da fantasia, busca dissimular, para si mesma e para os outros, a realidade.
Assim como a peça teatral, o filme é uma obra-prima repleta de personagens complexas, que trazem em sua essência o desejo ardente de reconciliação com a própria verdade.