O fato é que decidi aventurar-me na escrita! E não só: devo reconhecer que as coisas que leio são para mim muito mais importantes do que as que escrevo. Sim, um lúcido delírio! Simplesmente porque, como disse Jorge Luis Borges, “lemos aquilo de que gostamos – mas não escrevemos o que gostaríamos de escrever, apenas o que podemos escrever”.[1]
O leitor é pessoa mais feliz, já que a leitura é ato sublime e inconsciente em busca da satisfação.
O escritor, por sua vez, sofre de um tormento de dores indizíveis, de uma vocação patológica empenhada em encontrar certo prazer transcendental, perdido nos artifícios da invenção: a felicidade de escrever.
Por sua essência o ato de narrar torna o escritor o algoz e a vítima de si mesmo… Pois sofre de uma espécie de “doença autêntica e completa” [2] que brinca com a ideia, manipula a imaginação e, não obstante os fatos, procura seguir fiel ao sonho.