Há quem acredite que escrever seja apenas o ato de rabiscar sentimentos ou descrever emoções, de modo que se possa adulterar o cotidiano, dando-lhe novos contornos, quem sabe mais poéticos ou passionais. Nesse sentido, procuro ser mais cautelosa… Definitivamente a literatura pra mim é algo mais complicado. Quando escrevo, por exemplo, faço-o a partir do ermo de um instante, de uma fração de tempo muitíssimo pequena e delicada que eu costumo chamar de momentum fictício. Nesse gesto autenticamente solitário, esforço-me por organizar meu pensamento a fim de evitar que aflorem sinceridades tardias, vontades arrependidas ou trivialidades vazias. E sinto-me absolutamente vulnerável, pois, como dizia Clarice Lispector, “tudo me atinge – vejo demais, ouço demais, tudo exige demais de mim”.