Na qualidade de manifestações contingentes, somos seres que, para existirmos, dependemos de condições ainda não estabelecidas no seu todo. Somos destinados, portanto, a ser ou não ser num único instante, porque a qualquer momento podemos deixar de existir.
Essa efêmera condição nos conecta profundamente com a necessidade de imaginar uma bengala que nos ampare, que impeça a nossa queda e sustente a imortalidade da alma, tornando inevitável a busca do que é ab solutus.
Por isso temos a visão desta unidade indissolúvel que existe em si e por si, sem a necessidade de nenhuma outra para existir. Algo como uma prima causa, independente por si, mas que nos mantém completamente dependentes dela.
Neste momento do século XXI sentimos indispensável a idéia do Absoluto, pois como bem explica Umberto Eco[1], parece que o Absoluto vende bem, já que “é a alternativa de qualquer coisa que nós não somos e que está noutro lado, não dependendo de nós”.
Pessoalmente, devo exprimir a convicção de que sou incapaz de saber dizer o que é o Absoluto, uma vez que posso apenas verificar verdades objetivamente alcançáveis, válidas para todos nós. No entanto, acredito que ao sairmos de um estado natural para um estado cultural, nos encontramos num ponto incontornável onde as funções da verdade e da lógica jamais serão absolutas.
[1] Umberto Eco in Costruire il nemico e altri scritti occasionali, RCS Libri S.p.A. – Milão Bompiani, 2011.