Fotografia: Itaciara Poli |
Sem querer ou escolher, algumas vezes sou incomodada por questões suspeitas que se apoderam do meu pequeno espaço no mundo – já tão contraditório por si só. São questões que, quando por acaso nelas tropeço, minhas possibilidades cambaleiam como átomos sem rumo…
Hoje, por exemplo, o que me assedia é a iminente descoberta do tal bóson de Higgs. Não se fala em outra coisa e, por esse motivo, somente com elevadas doses de alienação seria possível ficar indiferente ao assunto. Comenta-se em jornais e revistas de todo o planeta que tal achado representaria um divisor de águas para a humanidade, pois viria para desvendar a origem de tudo.
Não quero e, principalmente, não tenho competência para redigir observações técnicas sobre a chamada “Partícula de Deus”, mas hoje, enquanto vagueava nesse espaço vazio, nessa escuridão central da origem do universo, me deparei com uma indagação meramente filosófica: por que temos a eterna pretensão de criar um sistema de totalidade para a condição humana?
Por que não ousamos admitir a vida como algo impreciso ou inexplicável?
Seja através da religião ou da ciência, por que a interpretação para a minha e a sua vida, para a nossa história e para nossas ambições deve depender sempre de uma análise total, perfeitamente completa do início ao fim?
Daí penso que talvez seja porque hoje, mais do que nunca, estamos sedentos por uma explicação absoluta, por uma razão garantida que concilie nossas crenças, nosso conhecimento e nosso bem-estar. Ou pode ser também por que não aceitamos mais ser como nossos antepassados: pobres ignorantes a viver num maravilhoso estado de graça por nada saberem…
Mas e nós, o que sabemos?
Na verdade, se pararmos para pensar no mais importante, veremos que a nossa história tem a duração de um bater de olhos e que, na prática, de um jeito ou de outro, nós é que somos o quantum elementar do universo, pois o centro de tudo está em nós mesmos.