Mary Dinkle by Harvie Krumpet |
Devo criar?
Como não é de admirar, a relutância desse tipo de tormento é bastante comum na medida em que ao escrever e mergulhar nas minhas profundidades, observo-me com certo desdém e até ceticismo. Funciona como um artifício de autodestruição preventiva no qual enuncio a minha mediocridade antes que outros o façam.
E com um pouco mais de atenção e honestidade, percebo que aquela pergunta faço também a eles (os outros), como se o que mais me interessasse fossem as notas de rodapé de suas críticas.
É aí que a criação assume o sabor avinagrado de ser colocada em segundo plano, completamente banida de sua virtude essencial.
Mas a pergunta decisiva permanece e então logo vem a resposta que se resume na amadora apaixonada que vai continuar a espreitar e, sem falsa modéstia, recolher-se ao abrigo do que é verdadeiro ou ao menos tentar.
Só queria poder ter a certeza de não impor como condição nenhum tipo de reconhecimento ou aceitação às minhas brincadeiras débeis de inspiração.
[1] Rainer Maria Rilke em Cartas a um jovem poeta